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EDUCAÇÃO TEOLÓGICA E MISSÃO

A educação teológica é uma atividade da Igreja e não só da Faculdade de Teologia da Igreja. A IPI do Brasil reconhece isto, pois subordina a educação teológica ao ministério de educação da Igreja. Enquanto uma atividade da Igreja, delegada principalmente à Faculdade de Teologia, a educação teológica desempenha uma tarefa com muitas dimensões de atuação e, consequentemente, com muitos desafios que nascem na realidade da Igreja e do mundo. Uma dessas dimensões é a missão da Igreja.

A relação entre educação teológica e missão é de mão-dupla ou, se você preferir uma linguagem mais técnica, é uma relação dialética: a educação teológica critica e apoia a Igreja na realização da missão e, ao mesmo tempo, a prática da missão pela Igreja apoia e critica a educação teológica formal. Vejamos alguns exemplos. Nas primeiras décadas do século XX, a IPI do Brasil entendia como prioridade de sua ação missionária a expansão do número de igrejas locais e a estruturação das igrejas locais nos moldes da tradição presbiteriana: com pastor e presbíteros no Conselho e o corpo diaconal apoiando as atividades da igreja e do Conselho. Assim, a educação teológica era voltada predominantemente à formação de pastores (à época, não eram ordenadas mulheres ao ministério pastoral). Naquele tempo, o modelo ideal de pastor era o de um bom pregador, visitador e presidente do conselho da igreja local. Com as controvérsias doutrinárias enfrentadas pela denominação, também se esperava de pastores que fossem firmes na doutrina.

Essa compreensão da missão da igreja ainda serve de base para a visão de educação teológica de parcelas da membresia de nossa denominação, que criticam a formação teológica da IPIB por não se adequar mais a esse modelo. Nas décadas finais do século XX, a discussão sobre missão na IPI do Brasil tomou um rumo diferente e duas ou três visões missionárias foram desenvolvidas e assumidas pelas lideranças pastorais e não-pastorais das igrejas e presbitérios. Uma delas pode ser chamada de progressista e visa a prioridade da missão da igreja na transformação das estruturas políticas e econômicas da sociedade. Outra, muito parecida com a progressista, se definia como missão integral da igreja e, embora valorizando bastante a tarefa da transformação social, também defendia a necessidade de uma atuação evangelística mais significativa. A terceira visão priorizava a evangelização e o crescimento da igreja, seguindo a visão mais clássica da missão enquanto evangelização e missões.

Assim, a educação teológica da IPI do Brasil naquele período era caracterizada pela distribuição dessas visões, mais ou menos de modo uniforme, entre os Seminários então existentes. Dessa forma, as igrejas locais e presbitérios definiam que Seminário fazia uma educação teológica “melhor” do que os outros e enviava seus candidatos em função dessa avaliação. Com o fechamento dos três Seminários e a abertura da Faculdade de Teologia, esse modelo de relação entre educação teológica e missão perdeu sua base na realidade e se passou a esperar da Faculdade que atendesse a essas três grandes demandas ou visões da missão da igreja ainda presentes em nossa denominação. A Faculdade de Teologia tem se esforçado, desde seu início, para realizar a sua tarefa formativa, levando em conta essas diversas expectativas da denominação.

Há, porém, um elemento comum a essas três tendências missionárias em sua relação com a educação teológica: todas elas vêm o pastor e a pastora como a pessoa chave na realização do ministério e da missão da igreja. Assim, se espera que a Faculdade forme pastoras e pastores com múltiplas habilidades e competências, como uma pessoa capaz de fazer a igreja crescer, de coordenar a ação missionária integral, de motivar os leigos para as missões e, ainda, continuar a ser um bom ou boa pregador, visitador e líder do Conselho.

Agora, vamos olhar para esta mesma situação a partir da visão da educação teológica. Nos três Seminários da IPI do Brasil no final do século XX e, depois, na Faculdade de Teologia, a concepção teológica da missão estava baseada em uma fonte comum, embora interpretada com ênfases diferentes. Essa fonte era o conceito teológico da missio Dei (expressão latina: missão de Deus), que defendia a ação de Deus, desde a criação do mundo, como a fonte para a compreensão da missão e ação da igreja como um todo. A noção de missio Dei desenvolveu a noção de missiones ecclesiae – literalmente, missões da igreja, mas, na prática, entendida como ministérios da igreja. Em termos práticos, na missiologia da missio Dei o pastor ou pastora não é mais o sujeito da missão, mas toda a igreja é o sujeito da missão, que é realizada a partir dos diferentes ministérios internos e externos da igreja local.

Criou-se, então, uma espécie de descompasso entre as expectativas presentes na denominação – e que a Faculdade de Teologia se esforça por atender – e a compreensão teológica da missão. A educação teológica formal da Igreja ainda tem como prioridade a formação de pastores e pastoras e é avaliada pela denominação a partir da formação desse tipo de ministros ordenados. A visão da missão, porém, demanda da educação teológica uma formação bem mais ampla e plural – não só pastores e pastoras, mas também um laicato capaz de assumir ministérios diversos a serviço da missão da Igreja.

Pessoalmente, vejo como um dos grandes desafios da educação teológica atual da IPIB superar esse descompasso. Isso pode ser feito a partir de dois fatores básicos e fundamentais. O primeiro, é que a denominação reveja as suas expectativas em relação à educação teológica a partir de uma compreensão mais ampla da sua missão. O segundo, que a Faculdade inclua em seus processos formativos modos mais inovadores e criativos de formação e capacitação dos membros não ordenados, além da formação pastoral propriamente dita. Por fim, estamos em uma época da história brasileira (e de todo o Ocidente) em que é preciso revisar e renovar nossa própria compreensão da missão da Igreja. Igrejas locais mais comprometidas com a ação missionária sempre mais fiel a Deus e relevante para o mundo e Faculdade de Teologia mais engajada na construção de uma teologia missionária igualmente fiel a Deus e relevante para a humanidade são, a meu ver, demandas urgentes para a formação teológica na IPI do Brasil.

Rev. Júlio Paulo T. M. Zabatiero

Coordenador da Pós-graduação da FATIPI


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