Neste mês em que a IPIB celebra o “Dia Nacional de Missões”, não poderíamos deixar de refletir e enfatizar a intrínseca e profunda relação que há entre missão e a educação teológica. Como ponto de partida, cito parte de um texto da autoria do saudoso Rev. Antonio de Godoy Sobrinho, de quem eu tive o privilégio de ser aluno nos anos de 1994 a 1997, no Seminário Teológico de Londrina - PR. O texto completo foi publicado no ano de 1989, na Revista “Reformanda. Crux sola mostra teologia” (Número 1, Ano I), considerada publicação oficial das três instituições teológicas da IPIB na época (Seminários de São Paulo, Londrina e Fortaleza). Sobre a intrínseca e profunda relação entre missão e educação teológica, assim escreveu o Rev. Godoy:
“A Educação Teológica não pode, hoje, prescindir da discussão missiológica. Missão é o legítimo ‘leit-motive’ da Educação Teológica. Em outras palavras, não pode existir Educação Teológica sem missão. A consciência deste fato vai dominando amplamente o cenário atual da Educação Teológica, a ponto de se proclamar que missão é a alma da Educação Teológica. Toda Educação Teológica que esteja, ainda, evitando a discussão missiológica, está fadada a permitir que a igreja se transforme apenas num repositório de folclore religioso, e não numa agência da reconciliação de Deus com os homens, em Jesus Cristo. Todos os gestos, atitudes e objetivos da Educação Teológica devem ser missionários, como missionários foram os gestos, atitudes e objetivos do apostolado de Paulo”.
Interessante é que o texto acima, como já afirmado, foi elaborado e publicado no ano de 1989, ou seja, a mais de 30 anos. No entanto, o seu conteúdo permanece atual e desafiador ainda hoje para todas as instituições de ensino teológico e, de modo especial, para a Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (FATIPI). Nas últimas décadas, por diversas vezes, houve a manifestação e decisões importantes na IPIB por uma formação teológica que privilegiasse a perspectiva missionária dos futuros pastores e pastoras. Na verdade, este anseio está presente em muitas lideranças, concílios e membros das igrejas. Tudo isto faz com a consciência, as preocupações, a necessidade e as possibilidades sejam levadas a sério por todos os que estão diretamente envolvidos com a educação teológica na IPIB e, na verdade, por toda a igreja também.
Neste sentido, o Rev. Godoy nos ajuda por meio do breve texto citado. Em primeiro lugar, ele é enfático ao dizer que “não pode existir Educação Teológica sem missão” e “missão é a alma da Educação Teológica”. De fato, tenho a impressão de que o reconhecimento, a importância e a valorização da relação entre missão e educação teológica estão mais presentes nas instituições de ensino em nossos dias. Hoje, é mais falado, lido, citado em sala de aula, bem como nas atividades extra-classe, o tema e os assuntos da e sobre missão. Porém, não podemos e nem devemos nos enganar. A questão, no fundo, não se resolve com aumento de disciplinas voltadas às análises possíveis da missão na matriz curricular do curso ou como o aumento da carga horária da disciplina. O que precisa ocorrer mesmo é a mudança na filosofia, na mentalidade, no pressuposto, no interesse e no comprometimento da formação teológica. Quando isto ocorre, todas as disciplinas se relacionam e contribuem com o agir missionário do Pai, do Filho e do Espírito Santo e, da mesma forma, com a concepção missionária do povo de Deus.
Em segundo lugar, o texto do Rev. Godoy deixa claro que a educação teológica não deve desprezar a missão, mas, por sua vez, a missão também não pode desprezar a educação e a reflexão teológica. Portanto, não podemos ter educação teológica sem a missão, mas também a missão não pode anular ou ignorar a educação e reflexão teológica. Se isso ocorrer, quem sofre é a igreja, pois pode se transformar num “repositório de folclore religioso”, enquanto deve ser “agência da reconciliação de Deus com os homens, em Jesus Cristo”. Educação teológica sem missão é perda de tempo, correr no escuro, cair no vazio. Missão sem educação e reflexão teológica é achismo, ser levado por todo vento de doutrina, é correr sérios riscos por trocar a glória de Deus pela glória humana. Oremos para que Deus nos dê condições de pensar, agir e viver na situação ideal entre missão e educação teológica.
Rev. Reginaldo von Zuben
Professor e Diretor da FATIPI
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