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Missão (quase) impossível

A narrativa no livro de 1 Samuel 17.31-58 nos é muito conhecida. Deus havia escolhido Davi para se preparar para assumir o reinado de Israel. Dentre todos os qualificados para importante missão, aquele que não possuía as características que se esperava para um futuro rei, foi o escolhido.

O mais jovem filho de Jessé, cuidador de ovelhas e sem experiência militar foi ungido por Samuel e o Espírito do Senhor esteve com Davi que se tornaria uma referência para o povo de Deus. Como todo ser humano, precisou enfrentar e vencer suas limitações e fraquezas, bem como os desafios individuais e coletivos que surgiram durante o seu reinado. Logo após ser chamado teve uma missão que poderia parecer “quase” impossível: vencer o inimigo aparentemente imbatível.

Golias, homem guerreiro, muito bem preparado para as batalhas e acostumado a eliminar os opositores dos filisteus, provocou o rei Saul e toda tropa de Israel para que um homem do exército o enfrentasse, causando espanto e medo aos que estavam no campo de batalha.  

Quem enfrentaria o homem que possuía fama de eliminar o exército inimigo por ter bom preparo físico e militar?

Não foi nenhum oficial do exército de Saul que assumiu a missão de defesa e de enfrentamento, mas o jovem Davi que se apresentou para defender o seu povo.

Situações desfavoráveis para a missão

Davi visitava e levava comida aos irmãos que se encontravam no campo de batalha. Em uma das visitas, o exército se preparava para lutar contra os filisteus.

Tudo parecia desfavorável para que o exército de Saul conseguisse vencer o inimigo, principalmente o medo para enfrentar o gigante Golias que se apresentava como indestrutível.

Mesmo diante da promessa real de conceder riquezas, isenção de impostos e casamento com a princesa, nenhum soldado se ofereceu para enfrentar o gigante Golias.

Davi não se deixou levar pela situação. Perspectiva de derrota, inimigo poderoso, medo coletivo dos soldados, enfim, quem eram os filisteus, particularmente Golias, que insultavam a Deus?

Não havia perspectiva de vitória, não havia coragem do exército ou de alguém que se dispusesse para guerrear, não havia nada, nem mesmo as vantagens reais conseguiram convencer que a missão seria difícil, mas que precisava ser executada.

Também para a igreja de Cristo em nossos dias, a missão que recebeu de Deus, parece ser muito difícil. As situações parecem desfavoráveis. Muitas são as ofertas para o desenvolvimento da espiritualidade; a religiosidade foi fixada em modelos que não atendem e respondem as perguntas das pessoas do nosso tempo; as mensagens enganosas de promessas que encantam as mentes e corações para conquistas do que é fugaz, são frequentes; as palavras e as atitudes cristãs encontram-se dissociadas e não se completam, enfim, poderia enumerar uma série de situações que amedrontam o povo de Deus e o impede de seguir confiante que a missão é do Senhor da igreja e não serão as dificuldades que deverão impedir a ação da igreja orientada pelo Espírito de Deus. 

Disposição para cumprir a missão

A apresentou Davi a Saul para lutar com o filisteu Golias. O rei tentou impedi-lo por se tratar de luta com guerreiro experiente e temível.

Davi não se deixou convencer com os argumentos do rei, apresentou as justificativas que o qualificavam para tal missão.

O exército de Israel se sentia acuado diante do inimigo e ninguém se apresentou para tentar ganhar as recompensas oferecidas pelo rei, mas o jovem Davi não se amedrontou e ao se indignar com a situação de opressão, ofereceu-se para a missão (quase) impossível.

Colocar-se para a realização da missão, não bastava ter experiência, ter equipamentos adequados para a guerra, ter promessas de enriquecimento ou ter aprovação do exército. Para Davi, a disposição para cumprir a missão permitiu que ele se oferecesse para a luta.

Os insultos do exército filisteu a Deus e ao povo, a certeza da vitória apregoada pelo inimigo, o medo coletivo que paralisou o exército de Israel e a desistência de se defender o povo, não foram suficientes para que Davi fugisse da missão.

A disposição para cumprir a missão foi alimentada pela presença de Deus na vida cotidiana do jovem, na responsabilidade em proteger o rebanho do seu pai, na convicção de que nunca esteve sozinho e por isso, pode vencer animais ferozes e salvar as ovelhas. O Senhor o livrou dos animais ferozes do campo para que desse continuidade ao seu trabalho, também iria livrá-lo das mãos dos filisteus.

Quando as situações são adversas, quando os empecilhos são desnorteadores, quando as oportunidades passam desapercebidas, qual a disposição para cumprirmos a missão que recebemos de Deus?

A igreja do primeiro século enfrentou muitas situações perigosas e desestimuladoras, mas venceu na missão de propagar a Boa Nova fundamentada nos ensinamentos de Jesus, com orações, com partilha, com louvores e com compromisso com as pessoas necessitadas.

A igreja do século XXI tem se colocado à disposição para cumprir a missão de Deus? Como Davi se ofereceu para enfrentar a situação que parecia impossível de ser vencida; como a igreja cristã nascente, trabalhou unida, não obstante as dificuldades, para que o Evangelho fosse conhecido, precisamos nos colocar à disposição com ânimo e coragem para continuar a missão de Deus.

Davi teve a iniciativa, não ficou esperando ser convidado ou convocado pelo Rei Saul, não apresentou desculpas para cumprir uma missão que tinha todos os elementos para não dar certo, mas crendo na presença de Deus em sua vida e não aceitando participar da derrota que poderia ser certa, colocou-se à disposição para enfrentar Golias.

Preparo adequado para a missão

Talvez de todos os personagens na narrativa, Davi fosse o menos qualificado para vencer o Golias. A inexperiência, a falta de equipamentos de proteção, as armas próprias para um enfrentamento no campo de batalha, seriam motivos suficientes para a desistência e reconhecimento da derrota frente aos filisteus.

O rei Saul, diante da iniciativa de Davi, ofereceu as condições consideradas necessárias para tal enfrentamento. Deu ao jovem a armadura, o capacete, a espada e a couraça que o protegeriam dos ataques de Golias.

Ao experimentar todos os equipamentos, Davi percebeu que eram inadequados. Talvez para outros soldados preparados para a guerra, seriam essenciais, mas para Davi não poderiam ajudar, pois nunca havia usado qualquer um deles.

A experiência do pastor de ovelhas mostrava que sabia manusear bem o cajado, pedras e funda. Lutar com Golias, em situação adversa e diante do exército inimigo fazendo uso desses objetos pode ter sido considerado uma insanidade, sendo desprezado e ridicularizado pelo seu oponente.

No entanto, Davi não possuía espada, lança, escudo, mas iria enfrentar Golias em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel quem tinha sido afrontado. Assim, com algo que parecia simples e inadequado, uma pedra e uma funda atirada na testa do gigante Golias, o indestrutível caiu por terra.

Como povo de Deus precisamos estar preparado adequadamente para a missão que recebemos. Na carta aos cristãos em Éfeso encontramos as orientações para nos prepararmos para cumprir a missão de Deus: cingindo-nos da verdade, vestindo-nos da couraça da justiça, calçando os pés com a preparação do evangelho da paz, embraçando o escudo da fé, usando o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando todo tempo no Espírito; vigiando com perseverança e súplica... (Ef. 6.14-18).

Concluindo, a missão diante de nós parece difícil e, às vezes, “quase” impossível, mas cremos que Deus nos chamou para sermos luz e sal em meio à sociedade que se autodestrói e não cuida da criação de Deus, aos poderosos que comandam exércitos que matam cidadãos e cidadãs para aumentarem seus domínios e riquezas, às pessoas que não têm sentido em suas vidas.

O Espírito de Deus nos chama para nos colocarmos à sua disposição, para nos prepararmos adequadamente para servirmos com ânimo e disposição no cumprimento da missão em situações desfavoráveis, na certeza de que a missão de Deus sempre será possível.

Reva. Shirley Maria dos Santos Proença

Profa. Fatipi e pastora na 3ª. IPI de Guarulhos.

 

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