Duas das principais ênfases que temos dado atualmente no estudo como no fazer teológico na FATIPI são: a teologia existe para que Deus seja glorificado e para que a igreja seja servida. O dia em que estas duas ênfases não forem consideradas, não há razão para o fazer teológico e não há sentido para a existência da Faculdade. O dia em que deixarmos de nos preocupar com a igreja e com a glória de Deus, de nada valerão as leituras, as aulas, as reflexões e todo conhecimento e certezas adquiridas mediante a reflexão teológica. Igreja, em primeiro lugar, é o povo de Deus que, reunido, adora e glorifica a Deus, desfruta da comunhão com Deus e com o próximo e se fortalece para a prática da missão de Deus no mundo.
Glorificar a Deus e servir a igreja por meio do fazer teológico, no contexto da Faculdade, significa, dentre outras coisas, fidelidade à vontade de Deus e vida em comunhão. Em outras palavras, a teologia, enquanto exercício e busca do ser humano acerca do conhecimento da ação e da vontade de Deus a partir da sua revelação, tem, em sua natureza, o propósito de contribuir para que o povo de Deus viva em fidelidade a Ele e em comunhão com Ele e com o próximo.
Fidelidade a Deus implica em discernimento e testemunho. É preciso saber, conhecer e experimentar o que Deus é em sua graça, misericórdia, perdão, justiça e compaixão. É preciso discernimento do que é concernente e correspondente ao Evangelho de Cristo e do que não é. É preciso discernimento da obra e da ação do Espírito Santo na vida do cristão e na igreja a fim de sermos meios pelos quais Deus realiza a sua vontade no mundo. É preciso discernimento do amor, do juízo e do futuro de Deus para que tenhamos o claro conhecimento de como viver e agir no presente.
A fidelidade a Deus está diretamente ligada ao testemunho. A igreja é chamada e existe para fazer discípulos (Mt 28.19), pregar o evangelho (Mc 16.15) e testemunhar o Cristo de Deus (At 1.8). Nesta gratificante e difícil missão, não estamos sozinhos. Deus, pela sua graça em Cristo, concede-nos o Espírito Santo para nos ajudar, ensinar, capacitar e nos consolar em meio às dificuldades da vida. Portanto, é na força do Espírito que testemunhamos Jesus Cristo ao mundo.
Ser testemunha de Cristo Jesus, do Evangelho da graça de Deus e da ação poderosa do Espírito Santo se dá mediante ações e modo de viver. É preciso praticar as “boas ações” e prezar por valores éticos e morais decorrentes da nossa vida em Cristo: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
O nosso atual contexto é marcado pelo pluralismo religioso, relativismo moral, individualismo hedonista, corrupção descabida, violência exacerbada, dentre outras coisas, o que torna fundamental o discernimento de tudo que procede de Deus e também o testemunho daquilo que conhecemos e chamamos de “vida abundante”, “vida eterna” e “nova criatura”.
Diante do exposto acima, é imprescindível que tenhamos uma teologia mais prática que especulativa, mais pastoral que acadêmica, mais missionária que tradicionalista, mais crítica que fundamentalista, mais profética que sacerdotal. É claro que no estudo e no fazer teológico, a dimensão histórica, conceitual, teórica e reflexiva é essencial para fortalecer os fundamentos de nossa fé e tradição. No entanto, é preciso que tal dimensão esteja relacionada com a dimensão prática, vivencial e contextual, tanto daqueles e daquelas que abraçarão o ministério pastoral, como de todo o povo de Deus. É preciso que os estudantes de teologia, tanto docentes como discentes, líderes e membros da igreja, tenha habilidade e competência para relacionar o que aprende com o que faz e como se vive. Isto significa uma formação teológica com ênfase maior na missão e na pastoral. Disto resulta, cremos e esperamos em Deus, ministérios mais significativos, coerentes, atuantes e sadios.
Por fim, a teologia feita na FATIPI também deve ressaltar a comunhão do povo de Deus. Comunhão significa estar junto, comer junto, caminhar, aprender e partilhar as bênçãos que Deus nos concede. Comunhão significa relacionamentos saudáveis e construtivos em Cristo Jesus. Assim, não deve haver separação ou distanciamento entre Faculdade e igreja. As duas não são inimigas ou rivais. É por isto que buscamos um fazer teológico totalmente envolvido com a realidade, desafios e dramas das comunidades cristãs. Para isto, devemos estar muito cientes de um fazer teológico não para a igreja, mas com a igreja.
Como Faculdade de Teologia, é com humildade e com os desafios do nosso mundo que sonhamos, estabelecemos alvos e ideais e, por fim, buscamos mudanças em nossa maneira de ser e atuar. Esperamos também a presença e ação de Deus a nos abençoar.
Rev. Reginaldo von Zuben
Diretor da FATIPI
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