Decepção e esperança. Estes dois sentimentos estão presentes na vida de todo ser humano. Frequentemente ficamos decepcionados com certas pessoas, instituições e determinados acontecimentos. No entanto, é frequente a esperança diante de novas possibilidades. Isto aconteceu com os discípulos de Cristo em relação à crucificação e morte de Jesus, seguida da sua ressurreição no terceiro dia.
Os discípulos ficaram profundamente decepcionados com o que acontecera com Jesus, após a sua prisão e julgamento. Jesus foi crucificado e morreu. Esta decepção foi responsável pela desorientação, desilusão e frustração, pois eles estavam empolgados, animados, deixaram tudo para seguir a Jesus e creram naquilo que Jesus havia ensinado sobre a chegada, em breve, do Reino de Deus e a “consumação dos séculos”. Toda essa expectativa e empolgação terminou quando o Filho de Deus foi preso, condenado, crucificado e morto. Os dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-35), a incredulidade de Tomé (Jo 20.19-25) e o retorno à pesca (Jo 21.1-3) mostram que os discípulos voltaram, desapontados e tristes, às atividades e à condição de antes do conhecimento e do seguimento a Jesus, tamanha a decepção e desilusão. No entanto, eles não sabiam, até então, que o melhor estava por vir.
No terceiro dia, após a sua morte, Jesus ressuscitou. Com isto, Jesus venceu a morte; venceu o pecado e a maldade humana que o colocaram na cruz; venceu toda forma de injustiça, promovida por homens e mulheres, responsável pela dor e morte de inocentes. Jesus venceu todo projeto e manifestação diabólica que resulta no afastamento do ser humano pecador da bondade, do amor e da graça de Deus. Com a sua ressurreição, Jesus trouxe nova vida, nova maneira de viver, novo ser e nova esperança para todos que nele confiam. Foi isto que aconteceu com os discípulos que, dominados pela decepção, tristeza e desorientação, encheram-se de alegria e esperança diante do Cristo ressurreto. Assim, na leitura do Novo Testamento, aprendemos que a ressurreição de Cristo é o acontecimento fundante da fé cristã.
Depois de aproximadamente dois mil anos da crucificação, morte e ressurreição de Jesus, a mensagem do evangelho continua tendo a mesma força, propósito e impacto na vida das pessoas, tal como ocorrera na vida dos discípulos de Jesus no primeiro século. Diante da incerteza em relação ao pós-morte, da maldade reinante em nosso mundo, da aflição pela injustiça presente em nosso dia a dia, do vazio e sem sentido pelo modo como a história caminha, a ressurreição de Jesus vem abrir possibilidades para uma vida diferente, conceder esperança para um futuro melhor, indicar a transformação da realidade marcada pelo pecado e pelo mal, e proporcionar a esperança escatológica para toda a criação.
Com a ressurreição de Cristo, a esperança deixa de ser um sentimento da vida humana e se torna um elemento da fé. Como sentimento, a esperança sempre estará sujeita e condicionada a diversos fatores externos favoráveis ou benéficos a nós; como elemento da fé, a esperança estabelece um princípio ou o fundamento de vida baseado na vontade e ação do Pai em relação ao seu Filho, Jesus Cristo, assim como ação do Espírito Santo para consumar a vontade e ação do Pai e do Filho em nós. Isto é o que significa “crer” no Novo Testamento.
Sendo assim, na vida cristã e como comunidade do povo de Deus ou corpo de Cristo, a ressurreição de Jesus está diretamente relacionada à missão e à escatologia. À missão porque é a vida do Cristo crucificado e ressurreto que deve ser vivida por todosnós, cristãos, ao mesmo tempo em que deve ser proclamada por meio de palavras e atitudes ao mundo. Está relacionada à escatologia porque a ressurreição de Cristo inaugura uma nova era, um novo momento, uma nova maneira de ler, compreender e viver historicamente pela fé. O “novo” da ressurreição de Cristo se encontra na concepção do Reino de Deus presente entre nós, pois já o experimentamos por meio de sinais, maravilhas e, sobretudo, pela presença e ação do Espírito Santo em nós, mas também o “novo” da ressurreição de Cristo aponta para o futuro da plenitude deste Reino, em que Deus será “tudo em todos” (1Co 15.20-28) ou “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap. 21.5). Portanto, a mensagem da ressurreição de Cristo nos ensina o seguinte: o que é inaugurado tem um alvo, uma direção, um destino, um fim. Trata-se do impacto e da abrangência da ressurreição de Cristo sobre “todas as coisas”, sobre a dimensão pessoal, natural e cósmica. Assim, em meio às decepções da vida, alimentemo-nos da esperança que vem da graça de Deus pela ressurreição de Jesus, o Cristo.
Rev. Reginaldo von Zuben,
Professor e diretor da FATIPI
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