Em toda a história da expansão do cristianismo as mulheres participaram como missionárias comprometidas e atuantes. No ministério de Jesus, as suas seguidoras estavam convictas de que precisavam aprender com o Mestre as Boas Novas para se tornarem continuadoras da missão por ele inaugurada.
As mulheres se fizeram presentes no nascimento, durante a vida, a morte e a ressurreição do Filho de Deus que cumpriu cabalmente a missão que recebera do Pai e delegou aos seus seguidores e seguidoras a continuidade da proclamação da palavra de salvação.
Ser missionária, portanto, não é uma ação a ser desenvolvida por algumas pessoas, homens ou mulheres, mas é um imperativo aos discípulos e discípulas de Jesus para que o amor salvífico de Deus seja conhecido.
Mulheres e o desafio missionário na adversidade
Caminhar ao lado de Jesus e aprender com ele capacitou as mulheres a participarem da expansão do cristianismo em um tempo em que havia muitas restrições para a presença pública feminina. No entanto, inúmeras barreiras foram vencidas e, após a morte e ressurreição de Jesus, as mulheres, ao longo da história, têm se envolvido na missão de Deus e, de diversas maneiras, apresentado a mensagem cristã.
Além das mulheres mencionadas nas narrativas bíblicas, há relatos históricos da igreja cristã antiga que muitas delas foram martirizadas por causa da fé que professavam e por anunciarem a fé cristã, dentre elas: Blandina, Perpétua, Felicitas, Potamiena, Valentina, entre outras, mencionadas pelo historiador Eusébio.
Com a hierarquização da igreja, o enclausuramento nos conventos tornou-se a única possibilidade de as mulheres continuarem a exercer a missão, pois da estrutura eclesiástica vigente elas foram completamente excluídas.
Durante a Idade Média, a conversão ao cristianismo de rainhas, possibilitou a expansão da fé cristã. Mulheres que preservaram a fé cristã conseguiram anunciar os ensinamentos aos seus maridos, monarcas que influenciaram os súditos, como era o costume da época. Elas foram missionárias em um período de grande confronto político e religioso. Clotilde, por exemplo, rainha dos francos, e Berta, rainha na Bretanha, as quais: “não apenas se manteve fiel ao cristianismo, mas logo iniciou um processo de evangelizar o marido, o rei” (cf. Duncan A. Reily em “Ministérios femininos em perspectiva histórica”, 1997, p. 117).
Além das rainhas, outras mulheres foram missionárias que criativamente anunciaram o evangelho de Cristo. Ao serem tolhidas pela igreja na proclamação da Palavra, e até no cântico congregacional que, ao ser substituído pelo coro, passou a contar somente com a participação masculina, as mulheres não deixaram de cumprir a comissão que receberam de Jesus. Assim como na antiguidade, na Idade Média a mulher fez da vida monástica um meio para continuar a missão que recebera de Deus. A monja Rosvita, com apoio da abadessa de Berberga escreveu peças teatrais, inaugurando nova modalidade para apresentar assuntos relacionados a temas bíblicos que foram de grande alcance ao povo que não era alfabetizado. A partir dos conventos, as mulheres atuaram como propagadoras do evangelho, principalmente no que diz respeito ao cuidado com os mais necessitados e transformaram a reclusão na moeda perdida e que foi encontrada e partilhada, apesar das situações adversas.
Protestantismo brasileiro e as mulheres missionárias
Precisaríamos de muitas páginas para registrar a participação missionária da mulher no protestantismo no Brasil. Um breve relato será feito para lembrarmos como valorosas mulheres contribuíram com a implantação do protestantismo em terras brasileiras.
Com o movimento missionário protestante intensificado no final do século XIX, as igrejas norte americanas entenderam ser o Brasil um campo a ser alcançado, ainda que o cristianismo já estivesse presente desde o século XVI com as missões católicas e, por isso, vários missionários e missionárias foram enviados para o estabelecimento de igrejas presbiterianas (1862), metodistas (1867), congregacionais (1858), batistas (1882) etc.
Neste movimento, as missionárias tinham como incumbência principal cuidar da educação, o que se tornou um campo fértil para cumprirem o mandato de Jesus. Elas se empenharam na abertura de escolas, ligadas às igrejas, que fossem de qualidade e inovadoras. Em Campinas-SP, foi implantado o colégio pela missionária Nannie Henderson, em 1873, obtendo excelentes resultados e aprovação da população. Nele era oferecida formação intelectual e religiosa crianças e jovens.
Na cidade de São Paulo, a missionária Mary Anneslay Chamberlain, em 1870, começou a receber meninas, “filhas de protestantes [...] e de republicanos, de emancipacionistas e até positivistas” (cf. Boanerges Ribeiro In: “Protestantismo e cultura brasileira”, 1981, p. 224), numa clara perspectiva inclusiva, com a inserção de meninas, quando se teve início o ensino misto.
Também as missionárias metodistas se esmeraram na área do ensino. A missionária Marta Watts, em 1881, deu início ao Colégio em Piracicaba-SP. Em 1975, a instituição tornou-se a Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Da mesma forma, Carmem Chaccon fundou o Colégio Americano, em Porto Alegre, abrindo curso noturno para mulheres pobres, em 1886.
Concluindo, a ação missionária de viver e proclamar o Evangelho foi realizada na história da igreja de diversas maneiras pelas mulheres. Na música, na educação, na proclamação pública, na pregação individual, no cuidado com os menos favorecidos etc. Ser missionária é cumprir o mandato de Jesus e, quando as condições sociais, culturais e históricas tentam impedir o cumprimento da Missio Dei, novas formas devem ser buscadas para que o anúncio da essência do Evangelho seja transmitido de geração em geração e vidas sejam alcançadas e transformadas por Deus.
Reva. Shirley Maria dos Santos Proença
Professora e Coordenadora da FATIPI
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