Alegria e felicidade são emoções que todos desejamos sentir, senão o tempo todo, pelo menos a maior parte do tempo. A questão complicada, porém, é que tipo de alegria é, de fato, alegria verdadeira e permanente? Talvez possamos começar a tentativa de resposta pelas coisas que entristecem a maioria das pessoas. Por exemplo: doença, falta de dinheiro, desemprego, a situação do país, problemas familiares, decepções com relação à vida etc. Diante das situações em que a alegria está ausente, podemos chegar à seguinte conclusão: a alegria não é duradoura quando baseada nas circunstâncias da vida. Não é permanente a alegria baseada no que temos ou no que alcançamos ou em nossas realizações pessoais – porque todas essas situações podem, de repente, mudar a ponto de perdermos tudo, especialmente a alegria de viver.
Que a Bíblia nos diz sobre alegria permanente ou felicidade? Há muitos textos bíblicos cujo tema é a felicidade ou a bem-aventurança. Gostaria de conversar com você sobre uma pequenina carta de Paulo: Filipenses. Esta é uma carta composta de apenas quatro capítulos e há um número significativo de vezes em que o tema da alegria é tratado. Filipenses é uma carta alegre, feliz. Mas você sabe em que situação Paulo se encontrava quando a escreveu? Estava na cadeia, preso por causa da pregação do evangelho. Feliz, na cadeia? Como isso é possível? Bem, se a alegria estiver baseada nas circunstâncias da vida, Paulo só poderia estar louco. Como pode alguém ser feliz privado de liberdade, de relacionamentos, de futuro? Paulo não só estava preso, mas também ficou sabendo da existência de problemas na comunidade de Filipos: divisão e problemas doutrinários. A comunidade de Filipos era uma das mais próximas, senão a mais próxima do apóstolo. Várias vezes ela o ajudou financeiramente e mantinha estreito contato com ele. Na cadeia, Paulo recebera presentes da igreja e a vista de um de seus membros, Epafrodito.
A presença da alegria na carta já começa em 1.3-4: “dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações”. Paulo está alegre porque a comunidade mantinha a amizade e a generosidade – bons motivos para alegrar-se, não é? Mas veja 1.18: “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei”. O que acontecia era que pessoas invejosas estavam pregando o evangelho para provocar Paulo, e qual é a resposta dele? “Deixa estar, fico muito feliz porque o evangelho é que realmente importa!”.
A alegria de Paulo não era um antídoto contra a tristeza: “Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, tanto mais me apresso em mandá-lo, para que, vendo-o novamente, vos alegreis, e eu tenha menos tristeza” (2.27-28). Como pode alguém ser alegre, estando triste? Alegria e tristeza não são sentimentos opostos? Aqui a gente começa a entender melhor a alegria cristã. A verdadeira alegria ou a felicidade cristã não é um sentimento. É uma atitude. Sentimentos são reações às circunstâncias da vida e são de vários tipos. Em nenhum lugar da Bíblia se proíbe qualquer sentimento, mesmo os negativos ou ruins; a alegria, porém, em Cristo, não é mero sentimento.
A última referência à alegria de Paulo, na carta, faz parte de uma exortação à firmeza na fé: “Portanto, meus irmãos, amados e mui saudosos, minha alegria e coroa, sim, amados, permanecei, deste modo, firmes no Senhor” (4.1). Paulo se alegra com o bem-estar dos filipenses. Você conhece gente que tem inveja do sucesso de outras pessoas? Gente que se sente mal porque outros estão bem? Paulo não era assim: quanto melhor a vida de seus amigos e amigas, tanto mais feliz ele ficava. Assim, a alegria, enquanto atitude, derrota os sentimentos malignos que nos afastam das pessoas e nos fazem praticar coisas ruins.
Podemos, agora, refletir sobre as exortações de Paulo à alegria. Em 2.2, temos a primeira exortação à alegria: “completai a minha alegria, de modo que penseis a mesma coisa, tenhais o mesmo amor, sejais unidos de alma, tendo o mesmo sentimento”. Ao invés de brigas e divisões, a unidade do povo de Deus alegra o apóstolo, não só o alegra, torna plena a sua alegria! Ainda no capítulo 2, mais uma declaração espantosa do apóstolo: mesmo que ele venha a ser executado, estaria feliz. Isto deveria fazer com que os cristãos de Filipos se sentissem felizes também: “Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo. Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo” (v. 17-18). Você já pensou em se alegrar por ser vítima de uma injustiça? Ou já pensou que a alegria pode ser o sentimento mais importante diante da perda de uma pessoa querida?
As exortações, porém, não param. Vamos olhar para a sequência delas na carta. Temos em Fp 3.1: “Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor”; em 4.4: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos”. Paulo repete por duas vezes a exortação à alegria a fim deles não se esquecerem. Pode a alegria ser ordenada? Sim, a alegria pode ser o objeto de uma exortação. Como já vimos, a alegria cristã não é mero sentimento, é uma atitude diante da vida. Parafraseando o apóstolo Paulo: “estou alegre porque Deus me salvou, me chamou para o seu serviço e me considerou digno de sofrer por Ele”. Esta também deve ser a atitude daqueles que sofrem por Cristo: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Fp. 1.29).
A ênfase da alegria é notória na carta aos Filipenses. Esta carta de Paulo é insistente na alegria, como vimos, apesar das adversidades. “Alegre-se! Seja feliz!”, em outras palavras, “reconheça que você já é feliz, que, em Cristo, a alegria já é parte integrante de sua vida”. Você conhece a Deus? É amado por Deus? Então a alegria já faz parte de sua vida. Basta, apenas, viver alegremente, viver de modo feliz. E quando as circunstâncias e sentimentos ruins aparecerem? Diga: “sou feliz com Jesus, meu Senhor”. Se não consegue dizer, pode cantar o hino de onde esta frase foi retirada. Você é feliz? Então viva alegremente, eis a exortação do apóstolo.
Rev. Júlio Paulo T. M. Zabatiero
Coordenador da Pós-graduação da FATIPI
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