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CRISTO RESSUSCITOU: A PREGAÇÃO ESSENCIAL DO CRISTIANISMO PRIMITIVO

Falar da ressurreição de Jesus no Novo Testamento é, de alguma forma, falar do testemunho das comunidades cristãs iniciais acerca deste evento fundamental para a fé cristã. De fato o primeiro impulso do testemunho cristão e a razão de ser da pregação tão inflamada e urgente da parte dos apóstolos, em especial o apóstolo Paulo, se deveu à certeza da ressurreição de Cristo. Alguns foram testemunhas oculares dela, o que se tornou, inclusive, uma das credenciais para o verdadeiro apostolado (cf. At 2.32). Por isso, não é exagero afirmar que a pregação da igreja cristã primitiva girava em torno da morte e ressurreição de Jesus.

Começamos a perceber isso desde os primeiros escritos cristãos, que foram as epístolas de Paulo. Ele não foi testemunha ocular da ressurreição em Jerusalém, mas seu testemunho de conversão fala do encontro do ressuscitado com ele na estrada de Damasco (cf. At 9.1-19). De fato, Paulo era fariseu e perseguiu da Igreja, como ele mesmo afirma em Gl 1.13 e Fp 3.5-6. O encontro com Cristo no caminho para Damasco alterou radicalmente sua vida, e foi comissionado como apóstolo, mesmo sem ter convivido com o Jesus terreno. Isso dá à pregação de Paulo um teor especial, focado exatamente na figura do Cristo ressuscitado.

Em 1Coríntios 15.3, Paulo faz a seguinte afirmação de fé: “Antes de tudo, transmiti a vocês aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. As palavras “transmiti” e “recebi” estão associadas no Novo Testamento à tradição de Jesus que os apóstolos guardaram e ensinaram. Paulo está reafirmando a fé fundamental dos cristãos, que se baseava no fato de Jesus cumpriu as Escrituras e, com isso, a vontade de Deus. E fez isso morrendo na cruz – outro ponto fundamental da pregação de Paulo – e depois sendo ressuscitado por Deus. Em 1Coríntios 15.14, Paulo deixa claro que: “se Cristo não ressuscitou, vazia é nossa pregação, e vazia também é a fé que vocês têm”, ou seja, fazia parte da confissão cristã a certeza da ressurreição e, sem ela, a própria pregação e fé perdiam sentido. Isso mostra quão central era a ressurreição para eles.

Décadas depois dos textos de Paulo terem sido escritos, surgiram os evangelhos registrados de Marcos, Mateus, Lucas e, por fim, João. Os quatro são unânimes em finalizar suas narrativas com o episódio da ressurreição. Mas ela fica no fim da história, porque essas comunidades que elaboraram os textos desejavam falar do ministério terreno de Jesus, como fica bem claro em João 20.30-31: “Estes sinais – as coisas que Jesus fez e falou - foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus”. Entretanto, mesmo antes de Jesus entrar em Jerusalém, ele afirmava que sua missão tinha como meta final a morte e ressurreição (cf. Mc 9.30-32 ou Jo 6.52-59), mostrando a ênfase maior.

As pesquisas sobre a formação dos Evangelhos indicam com bastante certeza que eles foram “escritos” de trás pra frente, ou seja, as narrativas mais antigas, as memórias mais fundamentais dos apóstolos transmitidas às comunidades eram a da morte e ressurreição de Jesus. Atos 2.36 reforça essa impressão, quando Pedro afirma: “Portanto, que toda a Casa de Israel saiba com plena certeza: esse Jesus que vocês crucificaram, Deus o tornou Senhor e Cristo”. Como Deus fez isso? Pela ressurreição, quando Jesus assumiu definitivamente sua posição gloriosa e divina.

Um aspecto importante nas narrativas da ressurreição é o fato de que foram as mulheres as primeiras a verificarem o fato da ressurreição, ao encontrar o túmulo vazio no domingo de manhã. A chegada das mulheres ao túmulo, com perfumes para ungir o corpo de Jesus, e a constatação de que ele estava vazio, gerando dúvidas, incertezas e temores, até que anjos e o próprio Jesus afirmassem a ressurreição, são parte da memória de fé deste momento.

Os demais textos do Novo Testamento foram escritos tendo já essa doutrina bem consolidada e presente na memória e na vida das comunidades. Em diversos momentos fica claro que a ressurreição é a base da fé das comunidades, como em Hebreus 1.1-4, que pressupõe a ressurreição quando afirma: “Deus fez dele (Jesus) o herdeiro de tudo, e por meio dele também criou o universo”. Já em 1Pedro 1.3 temos: “por sua grande misericórdia, ressuscitando Jesus Cristo dentre os mortos, Deus nos fez renascer para uma esperança viva”. Finalmente, o Apocalipse de João mostra uma poderosa imagem no capítulo 5. Aparece o Cordeiro no trono de Deus, como se tivesse sido sacrificado, mas que era chamado de Leão de Judá. E ele foi considerado digno de abrir os selos, ou seja, tinha toda a autoridade.

Como conclusão, é possível afirmar que a ressurreição foi o tema central da Igreja cristã primitiva e que por essa fé foram firmadas todas as demais doutrinas, em especial a de Jesus Cristo como Rei dos Reis, e Senhor dos Senhores, porque venceu a morte e assumiu seu lugar de glória junto ao Pai. Essa é a fé dos antigos cristãos; essa é a nossa fé.


Dr. Marcelo da Silva Carneiro

Professor de N.T. da FATIPI


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