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EDUCAÇÃO TEOLÓGICA E O ESTUDO DAS ESCRITURAS

Uma das primeiras coisas que um novo convertido tem contato é com a Bíblia. Por meio dela fica sabendo de sua condição diante de Deus, da missão que Deus tem no mundo e como viver a fé de uma forma viva e dinâmica. Portanto, é de esperar que pastores e pastoras, bem como oficiais e lideranças na igreja sejam capazes de ensinar a doutrina bíblica adequadamente.

Por causa disso, a educação teológica confessional tem como um de seus pilares o estudo adequado das Escrituras, que auxilie os estudantes a compreender e ensinar o fundamento da nossa fé. Afinal, a Bíblia é a base da fé cristã e fundamento para a existência da Igreja. Logo, estudar os textos que nos foram legados pelo povo de Deus no Antigo e Novo Testamentos é essencial para a formação cristã e pastoral.

Quando estudamos as Escrituras dentro da fundamentação do ensino teológico, podemos afirmar que há pelo menos três princípios que devem ser levados em conta. O primeiro é: a Bíblia faz parte da auto revelação de Deus e foi elaborada debaixo da inspiração divina. Ao contrário do que se possa imaginar, o estudo teológico da Bíblia, ou acadêmico, como alguns preferem afirmar, não nega nem ignora o fato de que as Escrituras foram produzidas pela vontade de Deus. Mesmo tendo a mediação humana da linguagem, dos momentos históricos em que ela foi produzida, a Bíblia guarda em si mesma a expressão divina de ser reconhecida pela humanidade como fonte de salvação e vida. Como saber sobre Jesus Cristo e seu supremo sacrifício se não for pelos Evangelhos? Como entender as promessas a Abraão citadas pelo apóstolo Paulo, se não for pela leitura dos livros hebraicos do Antigo Testamento? Aliás, como teríamos acesso às cartas de Paulo se não as consultarmos no Novo Testamento? Todos esses exemplos estão conjuntamente organizados na Bíblia. Ainda que o estudo acadêmico questione algumas afirmações da tradição, em nenhum momento ela faz isso com o objetivo de diminuir a importância da Bíblia ou seu impacto na fé das pessoas. O estudo teológico tem como objetivo alcançar o contexto real dentro do qual a Bíblia foi elaborada, que tem a ver com suas condições históricas e culturais.

O segundo princípio é: o estudo das condições históricas e culturais ajuda a compreender melhor os textos. Quando são feitos estudos sérios sobre o texto bíblico, um dos aspectos que saltam aos olhos é o de que não se pode ignorar a distância cultural que existe entre o povo da Bíblia e nós. Ali estão retratados costumes, organizações sociais e políticas, ideias e pensamentos que certamente hoje já não temos. Por isso, o estudo teológico da Bíblia leva em conta essa questão para que, na leitura, pregação e ensino, o pastor ou pastora não utilize erradamente as informações que terá acesso no texto. Que saiba distinguir aquilo que é histórico e culturalmente válido apenas para aquele tempo das orientações e mensagens que são válidas em todo lugar e tempo, fazendo da Bíblia, ao mesmo tempo, um livro de história e de vida. Um exemplo simples: textos que falam de sacrifícios não podem ser lidos da mesma maneira que textos onde Deus expressa claramente sua vontade de que amemos uns aos outros. Eles expressam situações bem diferentes, ainda que seu objetivo seja o de agradar a Deus. Mas por isso é preciso aprender a conectar os textos e sua mensagem para saber o que realmente continua válido.

O terceiro princípio é: a aplicação da mensagem para o tempo em que foi escrito e para nós hoje.  Ao abrir a Bíblia, o pregador ou pregadora deseja ser instrumento de Deus para transmitir a mensagem das Escrituras que edifique a comunidade. Este é o grande desafio do estudo das Escrituras: chegar ao cerne da mensagem do texto, tanto para os primeiros leitores e ouvintes, quanto para nossos dias. Ao distinguir os elementos da cultura que não são universais, o trabalho pastoral fica simplificado. É possível que alguns textos nem sejam apropriados para o púlpito, enquanto outros são absolutamente fundamentais. Desse modo, as Escrituras servirão de base para alimentar a fé e a esperança da comunidade, além de um guia apropriado para Igreja viver sua fé no mundo atual.

Estes princípios apresentados não são domínio secreto nem absoluto da educação teológica. Qualquer pessoa interessada pode se apropriar desses conteúdos lendo livros que estão à disposição de todos. Mas aí, ela já mergulhará no mundo teológico do estudo das Escrituras e, naturalmente, sentirá o desejo de repartir, compartilhar e aprofundar esse conhecimento. Em que lugar ela poderá encontrar isso de forma apropriada senão numa casa de formação teológica? Eis aí a riqueza do estudo teológico na academia: não apenas dá o conteúdo, mas o entrelaça com as experiências e a vida dos que ali estudam. Afinal, a Bíblia existe porque o povo de Deus existe, como resultado da vida de fé no Criador e Salvador.

Rev. Marcelo Carneiro da Silva

Professor na área de Bíblia da FATIPI


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