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NO FIM, O INÍCIO – BREVE TRATADO SOBRE A ESPERANÇA

Jürgen Moltmann não é somente o maior teólogo reformado vivo. O alemão é considerado um dos mais importantes pensadores de todo o cristianismo. Conhecido como o teólogo da esperança, Moltmann aponta para o futuro de Deus como sendo o futuro de um cosmos restaurado, onde não haverá mais espaço para a dor, a miséria e a morte.

A esperança escatológica não deve produzir na pessoa crente uma postura passiva, direcionada ao além. Como o próprio Moltmann afirma em outra ocasião: “Da esperança pela vida eterna renasce o amor pela presente vida”.

A praticidade dessa esperança é o tema de “No fim, o início - breve tratado sobre a esperança”. Em suas páginas, Moltmann vai da infância à morte, sempre realçando a esperança cristã como algo presente em cada etapa da vida. De início, a criança personifica a esperança por inúmeros motivos. A infância aponta para uma longa caminhada de vida, onde as oportunidades se abrem para o futuro.

Por meio da aguardada criança messiânica, a esperança não apenas da salvação individual ou de um povo, mas de todo universo, se tornou realidade. Essa criança é Jesus Cristo. Dessa forma, a primeira idade é lida como um farol de novas oportunidades.

Vivemos tempos de pandemia. O novo coronavírus produziu e tem produzido uma grande catástrofe em nosso mundo. A leitura do capítulo “Novos inícios em meio a catástrofes - Teologia bíblica da catástrofe” serve de alento para o momento que vivemos. Com hábil maestria, Moltmann analisa três grandes catástrofes bíblicas: o dilúvio, a deportação do povo de Israel ao cativeiro babilônico e a morte de Jesus no Gólgota. À primeira vista, situações aterradoras e desprovidas de qualquer esperança. O fim, segundo o prisma humano. Mas as três catástrofes foram superadas por Deus e se converteram em novos inícios repletos de vida e esperança. Fins trágicos que trouxeram inícios maravilhosos.

Na sequência, Moltmann discorre sobre algumas críticas dirigidas à interpretação tradicional da doutrina da justificação. Para ele, a redução desse importante conceito teológico à esfera individual se trata de um grande equívoco presente tanto no catolicismo-romano como no protestantismo. A real justiça de Deus busca transformar o planeta em um local onde o direito seja estabelecido, com as vítimas sendo ressarcidas e os algozes corrigidos.

Ainda na trilha por esse caminho de esperança, o teólogo de Hamburgo trata da “espiritualidade dos sentidos vigentes”, evitando transformar a prece em um mero exercício privado e intimista da fé desassociado da realidade, mas que se abre para a situação em nossa volta.

Moltmann elucida: “Na oração, despertamos para o mundo tal como ele se revela em seus altos e baixos diante de Deus. Percebemos o suspirar das criaturas e ouvimos os gritos das vítimas mutiladas. Ouvimos também o hino de louvor da primavera florida e sentimos aquele amor divino por todos os seres vivos. Portanto, a oração a Deus desperta todos os nossos sentidos, proporcionando uma enorme vigilância em nosso espírito” (p. 106). Essa sinergia entre o falar com Deus e o observar os acontecimentos do cotidiano aplica de maneira certeira o conceito bíblico de “vigiar e orar”.

Ao encerrar seu breve tratado sobre a esperança, nosso teólogo aborda de forma profunda a pertinente questão da vida após a morte física. Como bom teólogo de tradição calvinista, Moltmann segue à risca a ideia de que uma teologia reformada deve sempre se reformar. Assim, ele revisa alguns pontos referentes à temática, sem abandonar a doutrina bíblica.

Em tempos de desesperança, com o fim nos direcionando para uma total falta de sentido, o livro de Moltmann é uma dose de vida abundante para nossos corações.

Rev. André Tadeu de Oliveira, Pastor da IPI de Alexânia - DF

Relator do Conselho Editorial da IPIB

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