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O CULTO CRISTÃO ENTRE A PALAVRA E OS SACRAMENTOS

A prática habitual da frequência ao culto no convívio com irmãos e irmãs na igreja a cada domingo tem sido sempre experiência confortadora e insubstituível na vida do cristão. É natural também perceber e levar em conta que a prática litúrgica vivida por nós, especialmente pelos mais jovens, pode evidenciar cansaço e desgaste com formas de louvor que se tornam rotineiras, embora tenham se mostrado eficientes por gerações, principalmente em nossas igrejas protestantes tradicionais.

Comodismos e dificuldades em alterar velhas práticas face a novas necessidades de convívio e adoração no templo e no viver com os demais, como as vezes se requer em um novo tempo, especialmente com as novas gerações, podem prejudicar o revigoramento da experiência de fé na comunidade e deveriam nos alertar.

Voltados para uma questão que nos coloca lado a lado com a missão de Deus no mundo e que também deve ser a nossa. Abordarei um tema que nos alcança na expressão da fé por meio dos atos litúrgicos de que participamos  a cada domingo e que pede reavaliação.

A composição básica do culto cristão e os elementos que constituem uma  ordem de adoração e fé tem como conteúdo, em seu núcleo central bíblico-teológico, a experiência vivencial intensa resultante de um encontro e diálogo entre Deus e o seu povo e nos serve de parâmetro. Episódio nessa linha é vividamente narrado no chamado de Deus respondido pelo profeta Isaías, conforme o capítulo 6 do livro que traz o seu nome no Antigo Testamento. Ele pode ser encontrado em detalhes no Manual do Culto da IPI (2011, p. 17) e é constituído de partes:

Prelúdio

I - Liturgia de Entrada  com o chamado para a reunião em nome de Deus, com oração, leituras das Escrituras, cântico, confissão de pecados e perdão;

II - Liturgia da Palavra com oração por iluminação, leituras das Escrituras, responsos ou cânticos, interpretação pelo pregador, afirmação de fé, intercessão, ofertório;

III - Liturgia da Ceia em que rendemos graças a Deus pela criação, redenção, invocação do Espírito Santo, Oração do Senhor, palavras da Instituição e o partir do pão, servido com o vinho;

IV – Envio:  o povo é enviado em nome de Deus para servir a Cristo e ao próximo com sua bênção e paz.

Poslúdio

Na composição do esboço acima temos, bem ao centro, duas partes (II e III) que estão ligadas ao tema aqui, que trata da Liturgia da Palavra e da Liturgia da Ceia, ou da Mesa.

A prática de adoração na igreja, costumeiramente seguida, com história mais que centenária entre nós, tem feito com que preferencialmente e sem constrangimento, seja mais valorizada e praticada nos cultos a Liturgia da Palavra, centralizada no Sermão, em detrimento da Liturgia da Ceia, ministrada em geral, uma vez ao mês, no primeiro domingo.

Em nossa história é conhecida a posição do reformador João Calvino que batalhou pela celebração frequente da Ceia do Senhor, indevidamente preterida. Não há dúvida de que o costume se mostrou sempre como defeituoso e prejudicial à vida cristã, limitando um importante recurso no trabalho pastoral, como meio de graça a sustentar-nos em nossa fragilidade humana.

A ênfase em uma prática litúrgica que deveria manter unidos, em equilíbrio, esses dois blocos (Palavra e Ceia) inspira-se nos fundamentos que temos a partir da Igreja Cristã Primitiva, como se pode ver, por exemplo, no livro de Atos: os que lhe aceitaram a palavra e foram batizados, “perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos 2.42).

Aqui os dois elementos a compor o culto são teologicamente tidos como  fundamentais e outras tradições cristãs os mantiveram unidos. No entanto, é desnecessário enfatizar a importância que a palavra proclamada na pregação tem e sempre terá na igreja, tendo contado com lugar destacado no Novo Testamento e, desde a Reforma, elemento imprescindível na evangelização, o que lhe garante, sem dúvida, lugar especial (mas não único ou preferencial).

 Em verdade, a Palavra de Deus viva é o Senhor Jesus Cristo (João 1.1) que vem a nós como revelação, pela ação do Espírito, seja através das Escrituras ou da Ceia. Somos alcançados assim pelo ouvir, como ocorria na Antiga Aliança, ou pelo ver na Nova Aliança, conforme atesta João: “a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho [...] a qual estava com o Pai e nos foi manifestada” (1Jo 1.2). Assim, a presença de Deus nos é comunicada, seja pelo ouvir da Palavra, seja pela participação nos sacramentos que pelos sentidos nos alcançam, interpelam e fortalecem.

O apóstolo Paulo fala das nossas dificuldades em ver, “como em espelho, obscuramente”.  Entretanto, nossa deficiência pode ser superada tanto pelo ouvir como pelo provar através do paladar, “para apreender o mistério da fé. Com isso, através desses dois sinais, a Palavra e a Ceia, mediante a fé, o Senhor se faz presente no culto, sem que exista superioridade seja de um, seja de outro, abrangendo visão e sinal para nos alcançar através de todos os sentidos, consoante o teólogo reformado e liturgista Richard Paquier. Este liturgista prossegue:  “a Palavra isolada pode dar ao ouvinte a ilusão de que conhece a Deus e, portanto, induzi-lo a confundir o evangelho com um sistema intelectual, aliado a um conjunto de preceitos morais e bons sentimentos apenas. Os sacramentos relembram e protegem o caráter suprarracional e misterioso do Senhor da Igreja e da fé que nos une a Ele”. E mais ainda: “Com a Palavra proclamada e os sacramentos ministrados, a presença real do Senhor é testemunhada no culto pela ação do Espírito Santo, um mistério ao mesmo tempo oculto e revelado [...]. Assim, o culto preserva a tensão misteriosa entre o que já é dado e o que ainda não se completou entre o que já é graça e fé e o que será na glória contemplado; entre o Salvador que veio e o Senhor que virá [...]”.

 E que assim seja!

Rev. Eduardo Galasso Faria

Professor da FATIPI

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