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OS PRESBITERIANOS E A UNIDADE DA IGREJA DE CRISTO

Ao comemorarmos mais um aniversário da chegada do missionário norte-americano Ashbel Green Simonton ao Rio de Janeiro, em 12 de agosto de 1859, pode ser bom exercício perguntar uma vez mais pelo significado de ser presbiteriano hoje. Como tais somos herdeiros de uma herança religiosa que, ao lado de outras, nos coloca a serviço do Senhor Jesus Cristo e da missão evangelizadora que nos cabe como parte do povo de Deus. Nesse sentido, estamos em continuidade com o projeto bíblico e histórico que nos alcançou um dia por meio de nossos antecessores.  Se por um lado tal herança pode significar bênção e motivo de gratidão, por outro implica na redescoberta de características que, à luz da ação revitalizante do Espírito, nos conclamam ao ouvir humilde e à ação obediente.

Corresponder a um legado espiritual experimentado pelas gerações que nos antecederam será sempre um desafio. Teremos condições de reafirmar que recebemos um dia no tempo e lugar onde Deus nos chama para a obra do seu Reino, seja em nosso país ou na América Latina? Pensar esta questão será sempre tarefa da qual não podemos fugir.

Para um pequeno escrito comemorativo como este, achei por bem recordar uma característica que tem estado sempre presente na vida e trabalho dos reformados e presbiterianos em todo o mundo. Trata-se da busca pela unidade da igreja de Cristo como dom e elemento fundamental para a proclamação do evangelho perante o mundo. Além disso, é notória na história da igreja o fato de que os presbiterianos sempre estiveram envolvidos com o tema e sua materialização no movimento ecumênico, que cresceu expressivamente no século XX e do qual fazemos parte.

Nesse empenho pela aproximação às nossas raízes e escolhas cristãs, podemos em primeiro lugar nos aproximar do pensamento e obra do reformador João Calvino na cidade de Genebra. Entre os destaques na obra deste nosso mestre no caminho da fé, está sem dúvida seu empenho em favor da unidade dos cristãos no século XVI. Sim, apesar da inevitável divisão da igreja ocorrida no período, sabemos com certeza que nunca foi intenção dos reformadores que ela viesse a ocorrer. Seu propósito claro e reconhecido foi para que a igreja estivesse sujeita à Reforma conforme as Escrituras. Quando o arcebispo anglicano Cranmer pensou em promover um encontro com o propósito de superar as divisões no corpo de Cristo, a resposta do reformador francês foi clara, sofrida e precisa: “[...] é preciso reconhecer como um dos maiores males do nosso século o fato de que as igrejas estejam assim separadas umas das outras [...] estando assim os membros dispersos, o corpo da Igreja sangra. Esse problema me importa tanto que, se alguém julgar de alguma utilidade a minha presença, estaria disposto a atravessar dez mares para ir até aí”. (Carta de 1522).

Em sua obra mais conhecida, A Instituição da Religião Cristã, Calvino deixa claro seu pensamento ao comentar Filipenses 3.15 sobre a soberana vocação: “Se temos divergências sobre questões secundárias, elas não devem ser motivo de separação [...]”.

Tais ensinos têm refletido sobre a vida das igrejas presbiterianas em diversas partes do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, dois grandes ramos presbiterianos (norte e sul) se uniram em 1983 e se tornaram uma só igreja, com o nome de Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA). Empenhado nesta luta, teve destacado papel o pastor e teólogo John A. Mackay, que havia atuado como missionário no Peru. Posteriormente ele foi presidente do Seminário Teológico de Princeton e quando o país enfrentou uma crise com enfrentamento de questões políticas várias na década de 50, endereçou aos presbiterianos uma Carta em que sustentava: “as igrejas devem continuar na busca da unidade, justiça e ministério profético” (Leith, Tradição cristã, p.228).

 Outras grandes personalidades presbiterianas têm dedicado sua vida à  união das igrejas na evangelização e no testemunho social. Na Europa pode-se citar o nome do pastor e teólogo reformado neerlandês Willem A. Visser´t Hooft, que esteve por 20 anos à frente do Conselho Mundial de Igrejas e que faleceu em 1985. Ao falar sobre o alvo principal do movimento ecumênico deixou claro o compromisso com a unidade da igreja, por atender à oração do Senhor Jesus no Evangelho de João: “para que todos sejam um”.

No Brasil tivemos o notável pastor presbiteriano, reconhecido no mundo das letras e pioneiro do ecumenismo na América Latina, Erasmo Braga (1877-1933). Lutou pela organização da Confederação Evangélica do Brasil, que reuniu a principais denominações protestantes no país. É reconhecido como o “profeta da unidade” e teve ao seu lado, como colaborador, o pastor presbiteriano independente Epaminondas Melo do Amaral.

Nessa questão não se pode deixar de mencionar o empenho do pastor e teólogo presbiteriano independente Alfredo Borges Teixeira, que tendo participado da separação da IPI do Brasil em 1903, deixou profundo testemunho cristão em favor da unidade da igreja, por ocasião do centenário do presbiterianismo (1959), e que ainda hoje nos desafia: “Ambas as igrejas têm o direito de celebrá-lo e quão belo seria que fizessem unidas! Eu que sou o último representante do Sínodo de 1903 [...] teria grande alegria de ver essa união antes da minha partida”. Que assim Deus nos ajude!


Rev. Eduardo Galasso Faria

Professor da FATIPI

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