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Qual o lugar de Jesus em seu Natal?

O texto de Lucas 2.1-7 faz referência ao nascimento de Jesus e as dificuldades sentidas por José e Maria, grávida, prestes a dar à luz ao Menino-Deus, por falta de lugar para se hospedarem em Belém. Aqui aprendemos basicamente que Jesus não teve um lugar digno onde pudesse nascer, a não ser numa estrebaria, um curral destinado a ovelhas, sendo colocado numa humilde manjedoura! Que lições podemos tirar dessa situação, conforme narrada pelo evangelista Lucas?

Jesus não apenas ficou sem lugar para nascer numa das hospedarias de Belém durante o tempo de recenseamento, em obediência ao decreto de César Augusto. Ele também não teve lugar para nascer nos corações de reis e governantes invejosos que, apesar de nada entenderem sobre Seu nascimento, sentiram-se ameaçados com medo de perder o poder. De igual modo, também não teve um lugar nos corações daqueles que, mesmo sendo judeus, povo escolhido por Deus, duvidaram de Sua mensagem messiânica, portadora de paz e alegrias anunciada por meio dos anjos: “Eis que vos trago boa nova de grande alegria, que será para todo o povo” (Lc 2.10).

Não há muito o que criticar em relação ao comportamento de governantes e judeus do passado, pois constatamos também em nosso tempo que Jesus continua sem lugar para nascer no coração dos seres humanos, pós-modernizados. Porque estes foram coisificados e embrutecidos pelos cruéis sistemas econômicos, tornando-os como que desprovidos de alma, ou “sem tempo” para pensar em Deus, ou se tornaram “deuses de si mesmos”, ou ainda transformaram coisas e fenômenos em deuses como a ciência, a tecnologia, a máquina (computadores, robôs), dominados pela magia dos negócios, pela volúpia em relação aos lucros, em busca de sucessos e vantagens que a sociedade industrializada oferece. Numa situação assim, também hoje não são muitos os que com seriedade e consciência estão dispostos a receber Jesus em seus negócios e projetos de vida!

Ainda que pareça estranho, devemos ter consciência de que nem os “levitas e sacerdotes” dos templos dos nossos dias, isto é, nem todos os líderes religiosos deste tempo estão realmente dispostos a encontrar um lugar para Jesus “nascer”, para alimentar e curar as multidões ao redor. O espírito personalista de muitos pastores, bispos e apóstolos, assim autodenominados, nem sempre permite que Jesus nasça e permaneça na vida de cada um como O Senhor, O Salvador e Messias, conforme anunciado pelos anjos por ocasião de Seu nascimento em Belém.

Com esse retrospecto, poderíamos imaginar que Jesus ainda teria lugar para nascer no coração de alguém, neste novo tempo de Natal? Insistimos com esta questão diante dos preparativos para as festas natalinas que ocorrem neste período do ano. Os festejos natalinos costumam incluir parentes e amigos, distribuição de presentes, banquetes, encontros fraternais, embora quase sempre sem Jesus! Ele apenas tem sido um pretexto para esses eventos. Seu nome pode até ser lembrado, mas nem sempre glorificado e honrado como O Messias e Salvador da humanidade. E assim Jesus continua sem lugar para “nascer” ou nenhum presente lhe é oferecido.

Imaginemos, contudo, que Jesus quer “nascer” no coração de homens e mulheres, pois esta é a vontade de Deus na busca de reconciliação com o ser humano. Pois Ele veio ao mundo para alcançar a humanidade, incluindo quem está interiormente sem paz e sem alegrias duradoras; os que lidam com problemas de culpa e responsabilidade diante do pecado; os que perderam a esperança e o sentido da vida. Neste Natal, portanto, deparamo-nos com mais uma oportunidade de ter uma comemoração diferente, convidando Jesus para a grande festa de Seu nascimento e que Ele mesmo prepare o banquete para a concretização da paz, renovação das esperanças e recuperação do sentido da vida.

O Natal com Cristo, quando esta é a nossa decisão, é o Natal da “graça preciosa”. Dietrich Bonhoeffer, em seu livro O discipulado, referiu-se à “graça preciosa” como o oposto da “graça barata”. Nesta, ocorre a pregação do perdão sem contrição; celebra-se a Ceia sem a confissão dos pecados; há a justificação dos pecados e não do pecador; é uma negação da Palavra viva de Deus. Quando nos referimos ao Natal com a “graça preciosa”, porém estamos falando da possibilidade de um lugar para Jesus em nossa casa e em nossa vida. Desta forma, Ele pode “nascer” em nosso coração e nos proporcionar o perdão de pecados e nossa reconciliação com Deus e com o próximo. Com Jesus entrando em nossa vida nos tornamos, pela Sua graça, santuário de Deus, para o perdão, perdoando e sendo perdoados, com a busca da reconciliação numa experiência de verdadeira adoração na beleza de Sua Santidade.

Ressignifiquemos o sentido do Natal abrindo espaço em nossas vidas para que Jesus possa nascer em nós, dentro de nós, proporcionando-nos a “graça preciosa” para uma vida melhor e de comunhão com Deus, conosco mesmo, com o próximo (parentes, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, outros), com a Natureza. Nada impede que continuemos distribuindo presentes e nos confraternizando com festas, banquetes, etc,, desde que Jesus seja o centro das atenções, o personagem principal para nos trazer “boas novas de grande alegria”, não apenas para um Dia Especial, mas para todos os dias de nossas vidas, como benefícios da “graça preciosa” que nos vem por Seu intermédio.


Rev. Leontino Farias dos Santos

Professor e vice-diretor da Faculdade de Teologia de São Paulo da IPI do Brasil (FATIPI)

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