“Então se ajoelharam diante dele e o adoraram. Depois abriram os seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (Mt 2.11).
No tempo de Natal sempre se espera receber presentes! O comércio, com chantagens emocionais, procura nos estimular para que gastemos dinheiro, mesmo sem ter, deixando de lado gastos prioritários, por um festival de ilusões! Com fantasias e superficialidades, o Natal tem sido festa de presentes, lâmpadas coloridas, banquetes, encontros e desencontros, um misto de alegrias e tristezas, exploração de sentimentos e ressentimentos, recordações nem sempre agradáveis de fatos que marcaram a vida e que vêm à tona numa atmosfera estranha de sofrimento e bem-estar! No meio de tudo isso, qual seria o verdadeiro sentido do Natal?
No Natal de Jesus, os Reis Magos do Oriente o comemoraram de maneira diferente. Foram visitar o recém-nascido, levando com eles presentes preciosos: ouro, incenso e mirra. Vejamos o sentido desses presentes no Natal!
O ouro que foi presenteado simbolizaria as riquezas da vida humana. Em todos os tempos o ouro sempre representou riquezas, preciosidades. O gesto dos Magos pode significar, então, a oferta da melhor das preciosidades que possuíam. Não se tratava de algo apenas aparente, superficial, mas de grande valor. O exemplo dos Magos do Oriente nos ajuda a pensar no tipo de presente que ofereceríamos a Jesus no Natal. O ouro, seria oferecer o melhor do que temos para Deus. Na vida cotidiana nem sempre é o que ocorre. Na maioria das vezes não oferecemos algo tão precioso! E cada um sabe o que é mais precioso em sua vida. Às vezes nossas preciosidades não custam muito ou mesmo nem custam dinheiro! Para uns, o tempo gasto diante de uma novela na televisão é a sua preciosidade. Nem sempre as pessoas querem dar esse tempo para Deus, porque de forma egoísta entendem que não se pode passar sem ver a “novela de cada dia”. E até se diz que se há algo a fazer, ou sacrifício, que não seja esse momento da vida! Também nossas mãos e pés, ou todo nosso corpo nem sempre estão à disposição de Deus. Como administradores do corpo, nos sentimos no direito de usá-lo para atender prioritariamente tudo que nos dê prazer pessoal. Há os que cheios de vaidade, adoram-se a si mesmos, e não se dispõem a sacrificar nada do que têm de precioso para adorar a Deus, fazendo algo por alguém. E assim, mãos e pés, por exemplo, nem sempre servem a Deus como expressões corporais de dedicação. São preciosidades das quais nem sempre abrimos mão! Mesmo nossos bens materiais nem sempre estão à disposição de Deus. Usamos o que temos sem considerar que nada nos pertence de maneira absoluta, mas quando os conseguimos honestamente, deles somos apenas mordomos, para o bem comum.
Os Reis Magos também ofertaram incenso. Este nos lembra a adoração. Naquele gesto estava a demonstração de adoração, de reconhecimento e disposição de serviço. O incenso era algo que sempre estava presente nos serviços religiosos. Estava relacionado com o serviço que se queria realizar para Deus, através de ritos e gestos de misericórdia e amor. Hoje a adoração continua relacionada com o serviço, com o exercício do amor e da misericórdia que se deve ter em relação ao semelhante. Na Bíblia está escrito que o desejo de Deus é que se pratique mais misericórdia do que sacrifícios. Isto significa também que se quisermos presentear Jesus, devemos fazer isso com a vida toda! Em outras palavras, mais do que participar de um culto formal, de gestos de fidelidade a mandamentos ou cantar hinos a Deus, a adoração é atitude moral, cuja espiritualidade cresce e se qualifica nas práticas de amor expressas em atos de boa vontade para com todos os seres humanos, independentemente de tempo e lugar em que isso possa acontecer.
A mirra foi um outro presente oferecido pelos Magos no primeiro Natal. A mirra, tradicionalmente, significa santidade. Mas o que temos entendido por santidade? Quase sempre pensamos que vida de santidade é vida isolada do mundo, é fugir do mundo e esconder-se em certos lugares (no templo, por exemplo), para evitar o pecado. Quando os Magos dedicaram sua santidade ao Senhor, esse ato não significava que eram absolutamente puros, como se isso fosse possível. Mas significava a vontade de ser santo, apesar dos desafios, provações e tentações da vida. Hoje, a santidade pode significar vida de combate ao mal, de compromisso com Deus e com o próximo, vida que aceita desafios do Reino de Deus, no sentido de que cada um pode contribuir para que haja paz, amor, justiça, igualdade entre todos os seres humanos. A prática desses valores nos faz entender que santidade não é ter vida de devoção radical, separados do mundo, com atitudes estranhas, antipáticas, sempre com cara de tristeza, e anti-sociais nem viver com ar de superioridade, achando que os outros são apenas carnais e que somente nós somos capazes de ser santos, sem pecado.
Esforcemo-nos para oferecer a Deus o que há de melhor e mais precioso (ouro) em nossas vidas, comprometida com o bem-estar do próximo na permanente prestação de serviços em adoração a Deus (incenso) e com nossa santidade (mirra) em favor de quem precise do nosso amor e misericórdia para viver melhor.
Prof. Rev. Leontino Farias dos Santos
Vice-Diretor da FATIPI
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