Devido às comemorações dos seus 500 anos, muito se falou sobre a Reforma Protestante do século XVI no ano passado, tanto da perspectiva histórica como da teológica. Apesar deste ano não haver tanta ênfase nas celebrações dos 501 anos, isto não significa que ela caiu no esquecimento e, por isto, deve ser menosprezada. Pelo contrário, pois o testemunho, a reflexão, as contribuições e o desafio em torno da atualização dos principais temas que consolidaram a significativa reforma da igreja continuam. Foi com o intento e com a marca de que “a igreja sempre deve se reformar” que se consolidou este importante segmento da igreja cristã no mundo, apesar das constantes tentativas de acomodação ou engessamento, seja da teologia, do culto e da própria igreja.
Pode até parecer repetitivo ou então saudosismo, mas infelizmente temos que nos voltar a alguns temas centrais da Reforma Protestante, os quais já poderiam estar suficientemente assimilados por todos nós e fazer parte da nossa identidade eclesiástica e testemunho eficaz da nossa vida e fé cristãs. considerando o nosso momento histórico, penso que é importante revisitar brevemente quatro temas da Teologia reformada do século XVI.
O primeiro deles é a salvação pela graça mediante a fé. Este foi um tema prioritário e de grande importância da Reforma Protestante. Se considerarmos que o tema da justificação pela graça mediante fé é um dos elementos fundamentais que compõe a salvação cristã, e que este tema anula toda pretensão humana de salvação por méritos, seja por obras, seja pela compra de indulgências, então é possível afirmar que o tema da salvação pela graça mediante a fé foi o principal da Reforma Protestante. É impressionante como ainda existe muitos cristãos em nossos dias que preferem a salvação pelas obras, pelo autosacrifício, pelo legalismo e até pela nova versão das compras de “indulgências” a fim de se sentirem aceitos por Deus e merecedores de tão grande graça. É impressionante os cristãos que preferem confiar nas suas experiências, conquistas e conclusões doutrinárias em vez de tão somente confiar e se entregar na ação redentora do Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Talvez seja pelo fato de ser mais fácil e gratificante confiar em si mesmo do que confiar completa e definitivamente na obra de Deus em Cristo Jesus. Porém, deste modo, o Evangelho de Cristo vira um peso, cobrança constante, vigilância para não cair em pecado e insegurança total, tal como Lutero em seus pensamentos devido a sua condição de pecador. Portanto, nunca será demais pregar e ensinar sobre a graça de Deus, pois somente ela poderá, de fato, libertar, salvar e conceder a plena alegria e gratidão a Deus por tão grande feito em nosso favor.
O segundo tema é a integridade na pregação da Palavra de Deus. Uma das ações mais relevantes dos protestantes e reformadores foi colocar a Bíblia nas mãos dos membros da igreja, o que até então não era permitido, e dar-lhes a liberdade de ler e interpretá-la, mediante a iluminação do Espírito Santo. No entanto, isto fez que com a maioria das pessoas considerassem a sua interpretação como certa, a mais correta e, por isto, definitiva. Hoje, cada um interpreta, ensina e prega a Palavra de Deus de acordo com a sua preferência e intenções. Os protestantes e reformadores jamais ensinaram a livre interpretação das Escrituras, mas ensinaram o livre exame das Escrituras. Isto significa que não é qualquer interpretação que é correta, legítima e válida. É preciso critérios e cuidados na leitura e na compreensão da Palavra de Deus. Atualmente, muitos absurdos estão sendo ensinados e há muitas pregações equivocadas mesmo com o uso da Bíblia. A começar por pastores, pastoras e líderes cristãos, precisamos zelar pela integridade na pregação e no ensino da Palavra de Deus.
O terceiro e último tema que queremos destacar aqui é o do sacerdócio universal de todos os crentes, o qual tem sido muito estudado e falado em nossos dias. Que grande privilégio é sermos considerados e termos a capacidade de um sacerdote. Ter livre acesso a Deus, arrepender e pedir perdão pelos pecados cometidos diretamente a Deus, orar e interceder sem precisarmos de mediadores humanos, tanto pessoais como institucionais. Nosso único e suficiente mediador é Cristo Jesus, nosso sumo sacerdote. Como é confortante saber que o sacerdote eclesiástico, seja padre, pastor ou pastora, não tem mais privilégios que qualquer membro da igreja diante de Deus. Todos têm os mesmos direitos e deveres em relação a Deus. Todos estão na igreja para servir e serem servidos, abençoar e serem abençoados, ninguém é maior ou melhor que ninguém, pois todos são iguais na presença de Deus, apesar de ministérios distintos. No contexto do século XVI, este tema teológico significava a valorização dos membros “sem estudos” e inferiorizado em detrimento a toda superioridade do clero estudado e hierarquizado. Importante sempre destacar que este tema teológico não é somente um estado, mas também uma função, a qual resulta no serviço ao próximo.
Continuemos estudando, refletindo e atualizando os temas da Reforma Protestante à luz dos nossos dias e sejamos edificados por Deus.
Prof. Reginaldo von Zuben
Diretor da FATIPI
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