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TEOLOGIA E IGREJA

Teologia e igreja devem andar de mãos dadas, tanto para o bem da teologia como para o bem da própria igreja. É bem verdade que experiências desagradáveis desta relação levaram muitas pessoas a pensarem de modo diferente. De um lado, em nome da autonomia e liberdade da reflexão teológica, chegou-se a sustentar que teologia não tem nada a ver com igreja. De outro, diante do academicismo, linguagem difícil e das proposições distantes dos interesses e necessidades das comunidades cristãs, a igreja passou a não esperar nada de contributivo ou positivo da teologia, classificando-a como desnecessária. Deste modo, de ambos os lados, configurou-se que o melhor é cada uma ficar na sua esfera de atuação, caracterizando assim o distanciamento e isolamento entre elas.

Apesar dos conflitos e das dificuldades criadas ao longo da história, e até mesmo em nosso atual contexto, a relação entre teologia e igreja tem por finalidade a melhor compreensão da Palavra de Deus e a fidelidade na vida e na prática da vontade de Deus em nossos dias. Neste propósito, ambas se inter-relacionam e são complementares. No diálogo construtivo, ambas foram e são beneficiadas, por mais que seja difícil acreditar e constatar esta perspectiva.

Ao considerar a relação entre teologia e igreja, Paul Tillich, um dos mais importantes e polêmico teólogo do século XX, faz a seguinte afirmação na “Introdução” da sua Teologia Sistemática: “A teologia, como função da igreja cristã, deve servir às necessidades da igreja. Um sistema teológico deve satisfazer suas necessidades básicas: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a interpretação desta verdade para cada nova geração” (1987, p. 13).

Na afirmação de Tillich, é interessante perceber que teologia “é função da igreja cristã”, ou seja, para ele, paira sobre a igreja a responsabilidade e o dever de fazer teologia. Isto se dá pelo fato da igreja necessitar da reflexão e da afirmação sobre a “verdade da mensagem cristã” diante de tantos desafios e sonhos cultivados, bem como da interpretação e atualização da mensagem cristã para cada geração. Diante desta realidade, é interessante perceber também que, para Tilich, a teologia “deve servir às necessidades da igreja”. Este “servir” não é no sentido de “quem sabe tudo em relação ao quem não sabe nada”. Longe disto. Ao mesmo tempo, não é o “servir” passivo, submisso e que aceita tudo, sem julgar, criticar ou indicar os erros que a igreja comete. Julgamos que o “servir” se dá no diálogo, na caminhada, nos mesmos interesses, visando a glória de Deus e o fortalecimento e crescimento do povo de Deus.

Jürgen Moltmann, outro importante teólogo da nossa época, também enfatiza e valoriza a relação entre teologia e igreja. Uma de suas afirmações neste sentido é: “A teologia é uma tarefa conjunta de todo povo de Deus, não só das faculdades teológicas e não só dos seminários eclesiais” (2004, p. 23). Como “tarefa conjunta”, entende-se que teologia e igreja não devem caminhar separadas ou distantes e que não existe uma instância exclusiva na vida da igreja que, por si só, é a responsável pelo fazer teológico. Para Moltmann, elas devem andar de mãos dadas.

A partir da afirmação acima, Moltmann desenvolve a concepção: “ministério teológico geral de todos os crentes”, correspondente à tese reformada “sacerdócio universal de todos os crentes”. É claro que Moltmann sabe e reconhece que há diversidade de dons e exercícios no Corpo do Cristo, por isto, evita manter a universalização ou generalização do fazer teológico. Assim, apesar de pessoas separadas e capacitadas para determinada atividade, é importante destacar que, em vez da concepção citada anteriormente, Moltmann prefere falar em “teologia comum de todos os crentes” no sentido de que tudo o que acontece e constitui a igreja é fruto da reflexão e fazer teológicos, envolve a todos e conta com a participação de todos. Portanto, nada do que diz respeito à igreja está separado da teologia.

Diante das considerações acima sobre a saudável relação entre teologia e igreja, apresentamos duas respostas em relação à perguntada feita: por que a igreja precisa da teologia? Em primeiro lugar, ela precisa por causa da sua própria sobrevivência. Todos nós sabemos que a igreja sobrevive por causa da presença e da ação do Pai, Filho e Espírito Santo. Acontece que tal ação não exclui ou elimina a necessidade de refletir, pensar, aprofundar, praticar e constantemente renovar o conteúdo da nossa fé. Aliás, está presente entre os carismas concedidos pelo Espírito Santo, os dons referentes à “palavra da sabedoria”, “palavra do conhecimento” e o dom do ensino na igreja. A igreja que, entre outras coisas, não faz e não valoriza a teologia, para no tempo e deixa de ser relevante em seu contexto. Em segundo lugar, a igreja precisa da teologia para conhecer e discernir cada vez mais e melhor a Palavra de Deus a fim de viver e proclamar a mensagem cristã diante de tantos conflitos e desafios da nossa época. Isto é fundamental porque a Palavra de Deus afeta diretamente a qualidade da nossa adoração, da nossa comunhão e da missão que realizamos no mundo.

Todos nós percebemos e sabemos que gerações vão e vem e que, nas últimas décadas, a vida neste mundo e a nossa realidade passam por profundas e significativas transformações. Tudo muda rapidamente e a igreja acompanha estas mudanças. Neste momento histórico em que vivemos, a relação saudável entre teologia e igreja se torna meio pelo qual Deus atua e se revela, meio pelo qual o frescor e a vitalidade proporcionadas pelo Espírito Santo contribuam para que a igreja seja forte, dinâmica e fiel ao chamado divino.

Prof. Reginaldo von Zuben

Diretor da FATIPI

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