Epaminondas Melo do Amaral, autor do livro “O Protestantismo e a Reforma”, foi um notável pastor Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, considerado um dos líderes do presbiterianismo brasileiro e reconhecido por ser eminente orador e consagrado escritor. Ele teve destacada dedicação ao jornalismo, tornando-se fundador, junto com Miguel Rizzo Júnior, da “Revista de cultura religiosa”, a qual teve projeção internacional. Ele também foi fundador e diretor do jornal “Cristianismo”, colaborou na Revista “Unitas”, cooperou na “União cristã editora” e “Unum Corpus” e foi diretor por muitos anos do jornal “O Estandarte”. Além disso, defendeu o ecumenismo, tendo sido fundador e secretário geral da Confederação Evangélica do Brasil. No entanto, segundo sua filha, Maria Cecília C. do Amaral Cebrian, Epaminondas foi, acima de tudo, pastor, “nunca se desviando dessa vocação sublime, nem mesmo nos dias negros de dolorosas dificuldades financeiras”.
Nascido na cidade de Porangaba, interior de São Paulo, no dia 02 de outubro de 1893, Epaminondas foi criado pelos avós maternos. Sua mãe, Maria Justina de Melo Camargo, faleceu quando ele tinha apenas três anos de idade. Virginia César de Melo, sua avó, era quem o levava à Igreja e à Escola Dominical, despertando nele, com isto, a vocação para o ministério pastoral.
Não podemos deixar de destacar a rica contribuição que Epaminondas deu à Faculdade Teológica de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, tornando-se professor emérito desta Instituição. Nas palavras de Maria Cecília C. do Amaral Cebrian: “O Rev. Jorge Bertolaso Stella, seu colega, que com ele estudou, que o sucedeu no Seminário na cátedra de Exegese, e que com ele planejava publicar um estudo exegético, admirou sua inteligência lúcida, sua brilhante cultura, seu profundo conhecimento das línguas que lhe serviram de instrumento na interpretação do Novo Testamento, especialmente o Koiné, demais dialetos gregos e clássicos”.
No entanto, foi nesta “casa de profetas” que Epaminondas sofreu, talvez, a maior dificuldade em sua vida e vocação. Na chamada “Questão doutrinária”, de 1939, quando um candidato ao sagrado ministério declarou sua dúvida em relação às “penas eternas”, ele defendeu o candidato ao afirmar ser tolerável que o cristão tenha dúvidas sobre diversos temas teológicos, mas não em relação aos fundamentos do cristianismo. Com isto, Epaminondas foi acusado de ser liberal, racionalista e contra os princípios do evangelho. Os conservadores exigiram a sua saída da Faculdade e, mais adiante, foi constrangido a retirar-se da própria Igreja. Dezessete anos depois, Epaminondas foi convidado a retornar à Igreja e também ao Seminário, reassumindo as aulas do Novo Testamento.
Dois livros de sua autoria são marcantes: “Magno problema”, no qual ele ressalta o tema da unidade dos cristãos, e “O protestantismo e a Reforma”, livro este publicado em 1962, após a sua morte, ocorrida no dia 19 de agosto de 1962. Pelo fato de 504 anos da Reforma Protestante neste ano, daqui em diante, destacaremos algumas importantes considerações acerca deste último livro.
O livro “O Protestantismo e a Reforma” está dividido em três partes. Na primeira, o autor desenvolve quatro perspectivas: o fenômeno histórico, o caráter do movimento, os princípios básicos e o valor da reforma. A segunda parte é intitulada “O protestantismo em face da Reforma” e sua divisão consiste em: o protestantismo histórico, individualismo, negativismo, formalismos e falhas no culto. Por fim, a terceira parte recebe o título “Perspectivas” em que cinco aspectos são destacados: “ecclesia semper reformanda”, problema da autoridade, problema doutrinário, problemas eclesiásticos e ação do protestantismo.
A primeira afirmação que encontramos no livro “Protestantismo e Reforma”, na sua primeira página, é: “Este livro não é uma descrição histórica da Reforma e do Protestantismo, e nem representa uma apologia a ambos. Seu objetivo é: a) analisar as feições e o caráter da Reforma, tentando compreender seu verdadeiro espírito; b) apreciar o sentido do Protestantismo na sua evolução histórica, e particularmente nos desvios da sua genuína vocação; c) apelar para uma renovação espiritual do Protestantismo que vise ao aperfeiçoamento geral da Igreja Cristã, incorporando, retificando ou suplementando valores essenciais da Reforma”.
Com extrema sensibilidade poética e profundidade teológica, Epaminondas assim se referiu ao espírito da Reforma: “Em verdade, foi uma poderosa corrente de águas vivas a que surgiu na Igreja Apostólica. E como não morreu, e mais força adquiriu em seu percurso, um dia surgiu, no século XVI, avassaladora, encontrando vasto campo e que se estendeu, num empolgante espetáculo. Apoderou-se da Reforma que, todavia, não a conteve integralmente. E, como nunca pode morrer, continuou. Continuou e continuará, eterna corrente das águas vivas de Deus, que passa por todas as igrejas, em todos os climas, sem que nenhuma delas a detenha para si”.
O livro “O protestantismo e a Reforma” foi relançado em 1993, ocasião em que foi elaborado pequeno encarte, do qual extraímos as palavras da Maria Cecília C. do A. Cebrian, assim como as palavras de João Del Nero: “Após muitos anos, a obra do Rev. Epaminondas Melo do Amaral continua a frutificar, pela sua modéstia, pela dignidade do porte e pelas suas ideias profundas [...]. O livro se impõe por si mesmo, pela oportunidade, pelo estilo e pelo tema versado com profundidade e brilhantismo”.
Prof. Reginaldo von Zuben
Diretor da FATIPI
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