São Paulo, Mundo Cristão, 2006
O livro A Vocação Espiritual do Pastor é uma obra do renomado escritor Eugene Peterson. Foi publicada originalmente em 1992, nos EUA, e chegou ao Brasil em 2006 pela editora Mundo Cristão. Trata-se de um livro de espiritualidade voltado para a prática pastoral. O autor baseia-se na narrativa do livro de Jonas para desenvolver cinco capítulos a respeito da vocação pastoral.
A obra inicia mostrando que a vocação pastoral não é mais difícil ou superior a nenhuma outra vocação, quando estas são exercidas sob a ótica cristã. O problema é que muitos pastores têm trocado a vocação pastoral por um emprego religioso. É possível ter um ministério pastoral bem sucedido e reconhecido aos olhos humanos sem cumprir o seu real propósito perante Deus. Não só possível, mas é muito comum hoje em dia, infelizmente, vermos pastores que tratam Deus apenas de uma forma cerimonial, mais preocupados em atender às expectativas das pessoas do que ao seu chamado. Trocam a santidade vocacional pela idolatria da carreira. Transformam a vocação num profissionalismo banal, com simples tarefas a fazer. Quando isso acontece, o ministério pastoral deixa de ser uma vocação e passa a se tornar apenas mais um trabalho – um emprego religioso.
O autor baseando-se no livro de Jonas, faz a analogia entre o real e o ideal. Társis é a comunidade ideal, empolgante, cheia de oportunidades; enquanto Nínive é a comunidade real, com defeitos, chata, cheia de pessoas problemáticas, com imensos desafios que Jonas não quer encontrar. Um dos desafios do ministério pastoral é entender que o nosso chamado é para Nínive, não para Társis. Deus nos chamou para cuidar de pessoas reais, problemáticas, difíceis e doentes. Para salvar Jonas, Deus permite a tempestade, assim como para salvar nossos ministérios, a tempestade é instrumento de Deus para jogarmos as cargas fora, coisas que colocamos para dentro do ministério, mas que, na realidade, não têm valor e nos atrapalham para exercer nossa vocação.
Peterson faz uma comparação muito interessante das tempestades enfrentadas por Jonas, Paulo e Jesus, mostrando a presença da oração em todas elas. A oração é fio condutor, uma resposta à Palavra de Deus. A oração é o centro do ministério pastoral, ou seja, a função primária e mais importante de um pastor é orar. Infelizmente, pelo ativismo que vivemos na atualidade, corremos sempre o risco de deixar o tempo de oração, estudo e meditação para nos perdemos em reuniões e atividades que nem sempre contribuem com a nossa vocação e esgotam nossas forças.
Peterson trata de um assunto de extrema importância: dependência do poder do Espírito Santo. Um grande defeito que as igrejas podem cometer é a negligência (muitas vezes mascarada) do poder e da orientação do Espírito Santo. Ficamos decepcionados com os lugares em que chegamos por não crermos que quem nos conduzia era o Espírito Santo. Isso mostra que muitas comunidades perderam a sensibilidade – ou mesmo a noção dessa importância de ouvir a voz do Espírito para direcioná-las. Se a igreja perdeu essa sensibilidade, é porque seu pastor e sua liderança não estão sensíveis a voz do Espírito. O pastor, diz Peterson, não deve ser um diretor de programação, mas deve ser um diretor espiritual. Ou seja, precisa estar em sintonia com Deus para guiar sua comunidade nos seus caminhos.
Pode-se dizer que Eugene Peterson faz uma brilhante exposição da integridade pastoral. O livro é uma crítica ao labor pastoral atual, tratando de forma muito abrangente as várias áreas do ministério pastoral. Expondo de forma muito interessante a história de Jonas, o autor mostra situações, conceitos, hábitos e pensamentos do pastor e da comunidade que estão na contramão do padrão bíblico do ministério pastoral. O pastor torna-se, então, algo nada diferente de um lojista tentando cativar clientes – diretor de programação em vez de diretor espiritual.
Em dias de ativismo, a igreja perdeu a noção de que, se o principal ato pastoral é a oração, o pastor deveria focar uma boa parte de sua agenda à oração. Isso implica em fazer menos coisas visíveis à comunidade para dar lugar à oração – ato invisível.
Em suma, a obra é excelente e muito reflexiva. É um livro de espiritualidade, pois o leitor sente-se desafiado a elevar seu relacionamento com Deus ao longo de toda a obra. Pastores e aspirantes ao ministério da Palavra e dos Sacramentos se verão diante de um desafio grande em suas mãos: não tratar o ofício pastoral como uma profissão, mas investir tempo naquilo que biblicamente é fundamental ao ministério pastoral.
Lucas Garcia Neiro
Egresso da FATIPI
Pastor da 1ª IPI de Sorocaba
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