Spyer, Juliano. Povo de Deus: Quem são os evangélicos e por que eles importam. São Paulo: Geração Editorial, 2020.
O povo evangélico sempre foi visto com preconceito ou indiferença. Quando retratado na mídia, é de forma caricaturizada, sempre em tom de deboche, mostrando escanda-los e práticas exageradas. É certo que o povo evangélico, em parte tem culpa nisso. Há muitas esquisitices acontecendo, mas isso também acontecem em outras religiões, sem contar que os evangélicos são multifacetados. Não se pode falar num povo coeso, com as mesmas práticas, doutrinas, rituais, liturgias e espiritualidade. O povo evangélico tem uma diversidade enorme, normalmente conhecidos como protestantes ou históricos, pentecostais e neopentecostais. Mas, no senso comum, somos o mesmo povo. Nesse livro, Dr. Juliano Speyer faz um retrato do crescimento dos evangélicos, mostrando um lado que a grande mídia não vê ou não quer enxergar. Para isso, ele passou 18 meses num bairro da periferia de Salvador, convivendo com famílias evangélicas, numa pesquisa para seu doutorando em antropologia. Sua pesquisa não era sobre religião, mas, como ele mesmo diz “por um mal-entendido” se aproximou dos evangélicos do bairro e foi conhecendo suas histórias e sua religiosidade. Para ele, os evangélicos são muito mal compreendidos, pois a mídia faz questão de estereotipá-los, mostrando um lado ruim, que existe, mas que não representa a maioria. Spyer quer mostrar que o “povo de Deus”, que dá o título ao livro, é formado por pessoas trabalhadoras e que entrar para a igreja evangélica melhora as condições de vida dos brasileiros mais pobres. Para ele as causas são muito simples: fim do alcoolismo e consequentemente da violência doméstica, fortalecimento da autoestima, da disciplina para o trabalho e aumento do investimento familiar em educação e nos cuidados com a saúde. Isso traz uma mudança nas condições socioeconômicas, para melhor. Num contexto em que a maioria dos evangélicos pentecostais vivem em situação de pobreza extrema, pertencer a igreja e mudar seus hábitos e atitudes, traz uma ascensão econômica. Para Spyer, “o dado negligenciado por muitos jornalistas, formadores de opinião e intelectuais é que o crescimento do cristianismo evangélico no Brasil tem menos a ver com pastores oportunistas e carismáticos, e mais com a influência das igrejas para melhorar as condições de vida dos mais pobres”(p. 23). Ao longo do livro, o autor vai desenvolvendo sua pesquisa, mostrando essa pulverização entre os evangélicos, informando sobre cada uma das divisões dentro do povo de Deus. Mostra com dados que os evangélicos pentecostais e neopentecostais formam a religião mais negra do Brasil, que está envolvida em trabalhos de evangelização em diversos setores da sociedade, especialmente entre aqueles/as que a sociedade não quer saber ou exclui, como os serviços em presídios, na busca de tirar o indivíduo das garras do crime, do poder dos traficantes, no que chamam de “reciclagem de almas”. Também não deixa de abordar a instrumentalização da fé, por pessoas inescrupulosas que usam da fé ingênua dos fiéis para conquistar o poder político e as benesses dos Estado. O que você vai encontrar nesse livro, é comum na fala dos sociólogos e antropólogos, mas desconhecido da grande mídia que prefere mais rotular os evangélicos como intolerantes e fanáticos, que a igreja evangélica é um fator importantíssimo para a transformação de vidas, “num meio para constituir uma nova classe média brasileira” (p.22). Não é uma visão romantizada dos evangélicos, pois também fala dos evangélicos poderosos que não só abusam espiritualmente dos fiéis, mas também mostram na mídia um lado negativo e maligno. O que Spyer deseja mostrar é que os evangélicos importam, não só para votar e eleger políticos e até presidente, mas para ser um fator de mudança social. Por isso diz que “2020 será a década dos evangélicos, e quem não entender o cristianismo evangélico não terá condições de pensar o Brasil atual”(p. 22).
Rev. Marcos Nunes da Silva
Diretor da FATIPI
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